A era do niilismo: destruição destrutiva
- Marcos Nicolini
- Jun 19, 2020
- 2 min read
O niilismo é a crença que o mundo, as coisas flutuam sobre nada, ou, sobre o nada. (este artigo, 'o', pode dizer muito, mas não por hora)

Em Heidegger, o niilismo tem dois momentos: destruidor, ou, desconstrutivista e produtor, ele vai expressar na fórmula sobre a verdade: abertura da clareira do ser e o fechamento da clareira. Certa circularidade. O que isto quer dizer? Vamos usar a metáfora do jardineiro: imagine que há um lugar, um espaço, um topos no jardim cuja folhagem está envelhecida, morta. O jardineiro a retira, limpa e forma uma clareira, mas com o intuito de plantar algo novo, cuja beleza, colorido, aroma sejam mais vibrantes, com vigor e frescura. Assim entendo a questão do ser e da verdade: desconstrói-se velhas verdades e estabelecem-se novas, que tenham vigor e contemporaneidade.
Josefh Schumpeter escreveu "Capitalismo, Socialismo e Democracia. Neste livro cunhou o conceito de "destruição criativa", para descrever o Capitalismo. O Capitalismo seria uma forma de Niilismo heideggeriana, cuja dinâmica seria de destruir velhas e obsoletas formas de produção e criar novas formas mais eficientes, lucrativas, que permitissem o contínuo do acúmulo do capital. Por isso que vemos empresas como a Kodak, Xerox, Bluckbuster, etc., falirem, sumirem do mapa.
A ideia do niilismo como crítica do que há, como a destruição de certezas e valores que flutuando em nada (ou no nada), para estes pensadores, é acompanhada pela produção (voltando a Heidegger: pro-du-ção, a ação em vista do vir a ser) de outras verdades.
Mas há um niilismo que não traz em si a potência da criação, da produção, atendo-se apenas à destruição, desconstrução, aniquilamento. No início do século XX assistimos na Europa, Ásia e também na América, a proliferação de regimes políticos niilistas, como o fascismo, o nazismo e o comunismo. Filhos da Revolução Francesa, estes regimes foram pródigos em desedificar a vida, em produzir a morte, a fazer do negativo sua instância de ação. Pensamos que eles teriam caído no abismo que eles mesmo cavaram.
No século XXI vemos ressurgir os niilismo destruidores, pseudo-anárquicos, cujo movimento apenas é o de olhar para o sem-fundo de crenças e valores e estabelecer uma crítica tal que os aniquile: esta é a pretenção. Masturbam-se com crucifixos, defecam sobre fotos de inimigos, derrubam monumentos históricos, "encenam" no teatro atos onde o olhar está no anus do outro, destróem áreas de produção, etc. Mas o que colocam no lugar? O que criam?
São colaboradores tenazes da própria ordem que pensam destruir. Desenraízam os indivíduos a fim de expo-los a nada e se tronarem reféns de uma máquina sem espírito (lembrando Weber). Promovem uma destruição nadificadora, apenas quebram sem propor. Como lembra a música, vagam pelas ruas como massa sem rumo, apenas lançando pedras sobre vidraças, como se tivessem horror do que veem: a si mesmos como monstros de um mundo que é engolido por seu ódio à vida.
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