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Libertarianismo ou Anarcocapitaismo

  • Marcos Nicolini
  • Jan 5, 2021
  • 3 min read

Updated: Jan 6, 2021

Acompanhando um vídeo em que alguém procurava explicar os motivos do êxodo de empresas de tecnologia que saem da Califórnia e reinstalam suas unidades produtivas em outros estados dos EUA, pensei em quatro premissas filosóficas que suportam seu pensamento:


1 Autorregulação do mercado (a mão invisível):

1.1 A suficiência do egoísmo dos agentes econômicos, o qual suporta e torna o mercado eficiente: versão de Adan Smith defendida pela escola austríaca;


2 A liberdade de ação do empreendedor deve ser absoluta, assim, é necessária pois:

2.1 Promove a destruição criadora (segundo a proposição de Schumpeter), isto é, agente de inovação e mudança;


3 Antropologia libertária:

3.1 Certa versão da premissa rousseauista: o homem nasce bom mas o Estado o corrompe, o que torna o Estado no mal que aflige a sociedade, leia-se, os mercados.

3.2 O bom empreendedor é aquele que prescinde do Estado, agindo de forma egoísta gera riqueza e emprego.


4 A razão libertária:

4.1 O agente econômico: indivíduos racionais que fazem trocas livres num mercado sem interferência: liberdade negativa => ausência de coação => ausência de Estado;

4.2 A razão: a razão libertária é tributária da razão liberal iluminista, isto é, a racionalidade funda-se em certa calculabilidade. Tal racionalidade permite o utilitarismo, ou seja, a ideia da política como a maximização da felicidade. A razão libertária passa pelo cálculo egoísta que vis a maximização do bem, da felicidade individual.


5 – A Propriedade privada:

5.2 Encontramos no Segundo Tratado de John Locke os fundamentos para a legitimação da Propriedade Privada na Modernidade, não mais fundada no direito hereditário da terra, mas no Trabalho.


Em contrapartida pensei de imediato em leituras que havia feito e que me permitem questionar tais premissas, a saber:


1 O filósofo Michel Sandel de Harvard combate tanto o egoísmo como único motivador da ação humana, quanto o utilitarismo. John Raws também empreende um confronto direto contra o utilitarismo, demonstrando, entre outros, a impossibilidade de determinar e aferir o que seja a felicidade;


2 Albert Camus nos mostra que a liberdade negativa apenas pode ter um único Ser: Deus (Mito de Sísifo). A existência de um Ser Livre implica na sua unicidade e na ausência de liberdade universal;


3 Acemoglu e Robinson em “Por que as nações fracassam”, nos permitem perceber os três elementos fundamentais do sucesso das nações: 1 – inovação; 2 – democracia empreendedora, e; 3 – instituições fortes. Schumpeter é apenas o item 1


4 Daniel Kahneman em “Rápido e Devagar” destrói e solapa a racionalidade liberal, portanto, libertária a partir da ideia de heurísticas.


5 Martin Ford em “Os robôs e o futuro do emprego” nos permite dizer que o capitalismo não gera emprego, não tem como sentido e objetivo o trabalho pela via do emprego de recursos humanos. O trabalho morreu. O que visa o empreendedor é a maximização do retorno do capital investido, ampliando o capital acumulado na forma de dinheiro.


6 Podemos fazer referência ao Darwinismo Social, não como a soberania do mais apto, mas como a do mais forte. (sabemos que isto não é exatamente o que Darwin falou, mas é o que permaneceu dele). Assim, o Estado deveria ser um contraponto ao Mercado agindo em prol da sociedade, leia-se, dos mais vulneráveis, conforme nos fala Dani Rodrik: The Globalization Paradox.


7 Não apenas a categoria Trabalho encontrou seu fim em nosso tempo, como a Propriedade Privada encontra seus críticos, tais como Ulrich Beck em Sociedade de Risco, no qual aponta para a necessária preocupação com os danos causado localmente mas com abrangência global, como exemplo a poluição do ar e os vazamentos de petróleo. Também Garret Hardin em A Tragédia dos Comuns critica a desmesura do privado diante de demandas universais.


Segue-se assim que esta discussão é um pouco mais complexa do que sugere esta fala simplista e superficial. Em outras palavras: a cada uma das citações acima há de surgir uma biblioteca enorme com um debate infinito. Que alguém chame Thanos para estalar os dedos.

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